Quem tem medo de compromisso?

A resistência experimentada por muitos quando o assunto é relacionamentos e compromisso costuma encobrir inúmeros medos. Quais são eles? Descubra a seguir como evitar cair nessa cilada.

É só falar em oficializar compromisso, em relacionamento sério, exclusividade ou aliança que algumas pessoas já expressam sua aversão. Há quem interrompa subitamente a relação, ou então quem, de forma consciente ou inconsciente, começa a ter atitudes que sabotam a relação. A psicóloga Maitê Hammoud fala mais sobre o tema a seguir.

Pode se manifestar por meio de traições ou comportamentos que sabe que serão reprovados de imediato pelo parceiro. O que a pessoa que trata de evitar o compromisso a qualquer custo não entende é que a maior vítima de seus atos são elas mesmas. O medo passa a guiar suas atitudes, e isso nunca é benéfico.

Mas, afinal, quais são os fatores psicológicos por trás de tanta resistência ao compromisso?

Normalmente tais comportamentos encobrem um sentimento intenso de insegurança. A pessoa acaba buscando formas de fugir daquilo que lhe parece ameaçador. Por exemplo, ao sentir que a relação começa a funcionar, que há conexão, se paralisa e foge. Isso não deixa de ser uma forma de virar as costas para experiências que agregam valor pessoal. É negar-se a desfrutar de todo o prazer que uma relação de parceria pode gerar.

O medo de relacionamentos duradouros costuma estar vinculado a três questões: passado, modelos de convivência e temores pessoais. Vale a pena detalhar cada uma delas.

Passado

Superar um coração partido, além de não ser fácil, costuma ser um processo complexo e relativamente longo, por se tratar da elaboração de um luto. O trauma, desconforto e as mágoas podem ser tão intensos que impedem que a memória da dor seja amenizada.

Em casos assim, é normal que a pessoa evite qualquer tipo de vínculo, temendo entrar com contato com a dor dessa memória novamente. A fixação na memória da dor também faz com que as memórias positivas do relacionamento em questão não sejam retidas. De uma forma ou de outra, a pessoa está condicionada a sempre associar relacionamento a algo ruim.

É fundamental que as mágoas do passado sejam elaboradas para que deixem de ser um empecilho na vida afetiva no presente e futuro.

Quem tem medo de compromisso?

Modelos

A convivência com a dinâmica de um relacionamento desastroso e pouco saudável contribui para construção de um modelo no imaginário da pessoa, fazendo com que esse seja referência para todos os relacionamentos levados na bagagem pessoal, especialmente no tocante a temores e aversão.

São modelos que costumam vir da infância, presenciando brigas e conflitos de pais separados, ou ainda da convivência com pessoas muito próximas (amigos ou colegas de trabalho) que vivem relacionamentos destrutivos. Ao ter contato com esse tipo de dinâmica de casal, são reforçados os temores sobre relacionamentos, o que atrapalha a vida cotidiana e minimiza as chances de ter uma relação feliz e satisfatória.

Temores pessoais

Vários temores rodeiam os pensamentos daqueles que se sentem aversivos quando o tema é relacionamentos, principalmente aqueles vinculados à baixa autoestima:

  • medo de ser traído,
  • medo do abandono com o avanço da intimidade,
  • medo de não cumprir as expectativas do parceiro por se sentirem inferiores, entre muitos outros.

O fato é que esses temores mobilizam tantas emoções, que contribuem para que haja o abandono da atual relação, ou até mesmo o ato de procrastinar o início do relacionamento, mesmo sentindo vontade de fazê-lo. Tudo isso porque se gasta muita energia tratando de prever as inúmeras possibilidades negativas que poderiam ter lugar na relação.

Quem tem medo de compromisso?

A perspectiva é necessária

Os fatores citados anteriormente, isolados ou combinados, contribuem para o aumento da tensão e medo, demandando a devida atenção. Vale lembrar que, quando o tema é nosso próprio emocional e intimidade, dificilmente conseguimos chegar sozinhos a alguma reflexão capaz de mudarmos nosso ponto de vista.

Além de estarmos dominados por nossas emoções, é impossível manter a neutralidade ao pensarmos a respeito dos relacionamentos. O melhor caminho passa por procurar ajuda de um psicólogo, para que seja possível, através do suporte adequado, se beneficiar do processo do autoconhecimento.

Quem aposta por isso, consegue alcançar o fortalecimento emocional, a ressignificação e elaboração de traumas e eventos passados, a reconstrução da autoestima e, principalmente, consegue compreender o poder da escolha, sem temer que relacionamentos de terceiros, que nos parecem traumáticos, memórias passadas ou temores incontroláveis nos paralisem e interfiram na vida afetiva.

Relacionamentos não são sinônimos de fusão de identidade, sacrifícios ou rotina. Ao estarmos alinhados com nossas questões e valores pessoais, construímos a segurança necessária para iniciar um novo relacionamento, sem cargas emocionais passadas.

E se os conflitos estão atrapalhando a relação, talvez seja o momento de fazer uma terapia de casal. Os especialistas coincidem ao afirmar que a terapia de casal se trata de um procedimento altamente eficaz. Não são poucos os casos em que há, inclusive, uma melhoria notável na convivência.

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Maitê Hammoud
maitehammoud@hotmail.com