Como cultivar uma relação saudável?
Que tal aproveitar o Dia dos Namorados para refletir sobre alguns pontos importantes numa relação e tratar de lutar pela satisfação na sua vida a dois? Temos 5 pontos-chave.
Sinônimo de tensão para muitos solteiros, e de encanto e entusiasmo para os novos casais apaixonados, o Dia dos Namorados pode passar despercebido para casais que já estão em relacionamentos sólidos e duradouros. Consumismos à parte, que tal aproveitar o momento para rever e resgatar alguns pontos do relacionamento? Quem aborda o tema é a psicóloga Maitê Hammoud.
A reflexão é importante para compreender o ponto em que se está, encontrar meios de cultivar uma relação mais saudável, garantindo o prazer a dois.
Armadilhas: rotina e segurança
Uma sensação conhecida por todos aqueles que já se apaixonaram é a de “sentir borboletas no estômago”, que normalmente vem acompanhada pelo coração batendo acelerado.
Para aqueles que associam a ausência de sensações físicas da paixão com o esgotamento do amor, é importante saber que a paixão tem prazo de validade, e isso é até uma necessidade fisiológica.
Quando uma pessoa se apaixona, o corpo responde com um aumento na produção e descarga de dopamina e endorfina. Essas alterações bioquímicas, além de contribuírem para uma intensa sensação de prazer, provocam inúmeras alterações no nosso funcionamento:
- aumento do apetite sexual,
- bom humor,
- taquicardia,
- falta de apetite,
- aumento da disposição,
- aumento da concentração.
Se experimentássemos a paixão de maneira prolongada, ou até mesmo permanente, pesquisas indicam que o corpo certamente entraria em colapso.
É quando acaba o período da paixão e se normaliza o funcionamento do nosso organismo que outras variáveis passam a ser vitais para a satisfação e saúde do relacionamento, a fim de perpetuar o prazer da relação a dois, que já não são novidade um para o outro.
Estas 5 dicas e reflexões vão ajudar você a consolidar o sucesso de seu relacionamento:
1) Comunicação clara
Grande parte dos casais sofre desgaste na relação, e arrastam a sensação de não se sentir feliz na vida a dois por falta de comunicação. A suposição de que o outro deve ser capaz de nos compreender nas entrelinhas é uma grande armadilha.
Esperamos reações, comportamentos e posicionamentos diferentes do outro ao olharmos a situação apenas com o nosso ponto de vista. Não podemos esquecer que somente nós temos propriedade sobre nossos valores e expectativas. Nesse sentido, não há “tampa da panela” ou “alma gêmea”; as mentes do casal não estão conectadas. O único recurso que podemos usufruir e aprimorar é a capacidade de comunicar pensamentos e emoções.
Ao invés de fazer suposições ou recorrer a indiretas, que muitas vezes tornam-se óbvias apenas para nós mesmos, a base para qualquer relacionamento é a comunicação. A ausência dela apenas estimula mágoas e decepções.
Usufruindo da comunicação assertiva, é possível a construção da empatia indispensável para que qualquer relação funcione, fazendo com que o outro compreenda suas emoções e ponto de vista, e alinhando, assim, valores e posturas.
Por isso, é fundamental que você seja claro e objetivo ao falar como você se sente, o que espera do seu parceiro, o que acredita ser necessário para otimizar a qualidade e entusiasmo do relacionamento, sejam hábitos, posturas ou a busca por atividades de lazer. A comunicação é a chave para resolução de conflitos de maneira construtiva, e a ausência dela estimula a expressão de nossos conteúdos de maneira comportamental, contribuindo para respostas agressivas, insatisfação, tristeza e mal-entendidos.
2) Tempo
Ao passar aquele período de paixão que nos faz focar apenas na pessoa amada, a tendência é que outras prioridades ganhem nossa atenção na vida cotidiana. Isso pode ser perigoso!
É importante lembrar que o bem-estar pessoal demanda harmonia e satisfação nos quatro principais campos da vida: familiar, profissional, social e afetivo. Por isso, esteja sempre atento ao investimento que você está fazendo na relação:
- não deixe de buscar atividades prazerosas para o convívio a dois,
- qualquer dia pode oferecer a oportunidade para se fazer um agrado, surpresa ou demonstração de afeto,
- seu parceiro deve se sentir amado e desejado,
- a permanência e envolvimento com a relação precisa fazer sentido para os dois,
- deve haver lugar para entusiasmo e retribuição.
3) Sexo
Como citado anteriormente, uma das alterações físicas que envolvem a paixão é o aumento de apetite sexual. O sexo acaba sendo, além de mais prazeroso, o ápice da intimidade e prazer do novo casal.
Passando a maratona bioquímica da paixão, o sexo costuma ser visto e praticado apenas como uma forma satisfação biológica, sendo menos recorrente. O ponto delicado aqui é: quanto menos sexo você fizer, menos vontade terá; acabará buscando novas fontes de prazer. Em igual medida, quanto mais sexo você fizer, mais vontade terá de praticá-lo.
Isso porque, ao viver tal intimidade, nossas memórias sensoriais e intelectuais são resgatadas, estimulando o desejo e contribuindo para que a satisfação no relacionamento não seja prejudicada.
São muitos os casais que se queixam de haver se perdido pelo caminho, construindo uma relação muito mais de parceria, do que de amantes. Se você quer evitar que isso aconteça no seu relacionamento, invista tempo e energia na prática sexual:
- tome iniciativa
- resgate fantasias
- experimente novidades
São formas de prevenir que o sexo com seu parceiro se torne mecânico ou previsível.
4) Individualidade
Uma característica do apaixonado é, ao sentir-se embebedado por suas emoções, dedica seu tempo exclusivamente ao parceiro, deixando de lado algumas atividades, mudando sua rotina e até abrindo mão de algumas coisas que deixam de ser importantes naquele momento pela necessidade da presença do outro. Com o passar da paixão, os efeitos colaterais começam a aparecer no relacionamento, principalmente no bem-estar pessoal.
Relacionamentos são para somar, não subtrair. Ao estar em um relacionamento afetivo, seja recente ou sólido, a relação não deve ser sinônimo da fusão de identidades: não caia nesta cilada! Nossa identidade é o que temos de mais valioso e singular, somos únicos, como nossas digitais, e possuímos necessidades muito particulares.
Relacionamentos nunca devem se associar à anulação de nossa individualidade. Ao privar seu parceiro de manter atividades em outros campos da vida, como o profissional, social e até mesmo familiar, fazendo com que deixe de desfrutar de pessoas amadas ou praticar seus hobbies e atividades individuais de prazer, você está privando-o de aspectos da vida tão essenciais quanto o relacionamento de casal em si.
Acreditar que a relação afetiva supre todas nossas necessidades é ser vítima de uma enorme fantasia. Possuímos inúmeras necessidades e prazeres, e isso não deve ameaçar o relacionamento, pois se trata de nossa identidade, campos e prazeres distintos da vida que necessitam de interação para sua composição.
A satisfação com o relacionamento é reflexo da autonomia que a pessoa possui em gozar da vida e de sua individualidade, e sua privação impactará diretamente no desejo em permanecer na relação a dois. É fundamental que o casal mantenha todos os campos da vida em harmonia, fazendo com que o parceiro não se torne um empecilho.
Estimular e continuar atividades individuais é saudável para o relacionamento, e se a prática causa qualquer desconforto, seja por ciúmes, temores e valores, não deixe de trabalhar tais questões pessoais de maneira que isso não se torne um peso ao longo da relação.
5) Lazer
Não deixe os momentos de lazer a dois caírem no esquecimento ou se fazerem presentes apenas em fotografias antigas, de quando a paixão estava presente. Ajustes e investimentos na relação devem ser contínuos, aumentando o nível de satisfação na vida a dois.
Resgate interesses em comum, busque atividades a dois prazerosas como viagens, esportes, cursos e outros hobbies que permitam que, mesmo com a rotina, sejam sempre experienciados momentos de prazer. Esse é o caminho para estimular continuamente o compartilhamento de afinidades.
Se você sente que sua relação precisa de ajustes e muitos aspectos precisam ser revistos ou reconstruídos, aproveite o Dia dos Namorados para relembrar o que você e seu parceiro possuem em comum, o que os motivou a engatarem na relação, dando chance para se redescobrirem em um relacionamento muito prazeroso! Dedique seu tempo e faça os investimentos emocionais e de tempo necessários.
Caso sinta que dificuldades pessoais interferem em algum destes pontos, não deixe de procurar ajuda profissional, para que, através do processo de autoconhecimento, sejam possibilitadas outras perspectivas e resolução de conflitos. Se achar que tanto você como seu parceiro têm dificuldades para reencontrar a harmonia, interesse e desfrutar de compreensão e comunicação clara, recorra à terapia de casais. Trata-se de um alicerce e facilitador da compreensão do outro, que proporcionará o suporte necessário para que o sucesso afetivo e pessoal seja alcançado. Aqui você encontra uma série de psicólogos especializados em terapia de casal.