Eu venci a síndrome do pânico

Quem não tem síndrome do pânico, dificilmente compreenderá como é ser tomado por um medo irracional. Neste artigo, você verá o relato de alguém que conseguiu retomar o controle da situação.

É difícil mensurar em palavras as sensações que se experimentam durante uma crise de pânico. Para quem está de fora, compreender o que está sendo vivido por quem está na crise é muito difícil, quase impossível. Muita gente passa por situações similares sem se sentir ameaçado. Por que alguns simplesmente não conseguem?

Aparentemente está tudo normal e sob controle, e boom: explode a crise e, com ela, vem muito sofrimento e temor. Controlar o furacão de sensações e pensamentos é inviável. Sofri de síndrome do pânico e acredito que, ao relatar como aconteceu durante a crise que, pela primeira vez, me permitiu entender que era um caso de pânico, ajude a ampliar o conhecimento sobre o transtorno e aumentar a empatia naqueles que nunca experimentaram tamanha explosão emocional.

Hoje percebo, que desde a pré-adolescência, apresentava sintomas de ansiedade. Mas nada que pudesse ser entendido como síndrome do pânico, ou que causasse prejuízos significativos, a ponto de evidenciar a necessidade de buscar ajuda profissional.

Eu venci a síndrome do pânico

Até que um dia…

Nunca tive medo de dirigir, pelo contrário. Sempre adorei a sensação de liberdade que dirigir me dava. Eu tinha por volta de 21 anos quando comprei meu primeiro carro e, maravilhada com a sensação de autonomia, ganhei um pouquinho de excesso de confiança. Por falta de cuidado, bati em um carro estacionado a caminho do trabalho.

Felizmente não foi nada grave, mas desde aquele dia comecei a sentir um medo irracional e absolutamente incontrolável quando dirigia em rampas e ladeiras. Sempre que me deparava com uma ladeira (até mesmo as pequenas rampas de estacionamento), sentia tanto medo que parecia que iria me desintegrar a qualquer momento.

As mãos suavam, o coração disparava e sentia uma sirene de emergência a todo vapor dentro da minha cabeça. Ao detectar qualquer subida em meu trajeto, essas sensações se repetiam, e meu primeiro impulso era encontrar uma forma de desviar. Claro que desviar nem sempre era possível…

Muitas vezes, eu era surpreendida por uma ladeira e, sem chance de fugir, simplesmente ficava paralisada. Puxava o freio de mão, ligava o pisca alerta para que todos achassem que meu carro estava quebrado e desviassem. Fechava os vidros na tentativa de abafar um pouco o som das buzinas e ofensas. Quando não havia nenhum carro atrás do meu, eu finalmente conseguia seguir viagem.

Por muitas vezes tentei soltar o freio de mão nestas situações, mas a sensação era exatamente de estar congelada, como se meu corpo não obedecesse meus comandos. O pavor era tanto, que soltar o freio de mão em situações assim era sentido por mim como algo equivalente a apertar um botão de ativação de uma bomba capaz de explodir toda uma nação. Dramático, não? Mas absolutamente real.

Eu venci a síndrome do pânico

O simples ato de soltar o freio de mão em uma ladeira era, para mim, um ato altamente perigoso. Todas essas sensações ainda não eram percebidas por mim como síndrome do pânico. Para uma leiga, eu sabia que algo estava errado, mas pensava que se tratava apenas de um mal-estar.

Minha primeira grande crise

Era de manhã, estava a caminho do trabalho. Parei no farol vermelho do cruzamento de uma grande avenida e, do outro lado, a rua continuava como uma ladeira. Enquanto aguardava o farol abrir, meus olhos atentos em busca de perigos, rapidamente detectaram um caminhão extremamente pesado, que subia aquela ladeira enorme bem devagar.

Eis que a sirene interna dispara com força total. Comecei a viver intensamente as imagens de um desastre. Fiquei apavorada com a possibilidade de o caminhão tombar e, como em um filme, capotar da maneira mais terrível que se possa imaginar, rolando até o outro lado da avenida e, fatalmente, me atingindo. Foram apenas frações de segundos, e eu já estava vendo eu e meu carro como uma lata de sardinha que foi atropelada por um trator.

A sensação de perigo era tão intensa e real, que, estar ali, sem fazer absolutamente nada, era como aceitar assistir a minha morte.

Fui tomada por uma descarga de adrenalina, que me fez pensar rápido e decidi viver! Acelerei o carro, atravessando o cruzamento da avenida, que estava extremamente movimentada pelo horário, no afã de encontrar uma sensação de segurança. Sem cogitar riscos, para mim foi uma decisão de vida ou morte.

A falta de controle característica do pânico

A loucura do pânico é essa: é completamente irracional, não dá nenhuma possibilidade de controle. Você simplesmente sente aquilo como real, e toma atitudes diante da ameaça, exatamente como se tivesse que sobreviver a uma guerra.

“Que bobagem, isso é só psicológico.” É o que as pessoas costumavam dizer quando falava dos meus medos. Você já imaginou se sentir assim? Você chegou a considerar, enquanto lê este relato, que dificilmente aquele caminhão desafiaria a gravidade, me esmagando do outro lado da avenida… mas a possibilidade de morte ou de um grave acidente era tão real que, sem medir consequências, decidi acelerar e passar no sinal vermelho, colocando não só a minha vida em risco, como a dos que estavam nos carros ao meu redor?

Eu venci a síndrome do pânico

Imagine a situação que você mais sentiu medo em sua vida. Agora imagine conviver com ela todos os dias. Será que é tão simples assim? Viver com síndrome do pânico é viver por um fio. Hoje, após fazer tratamento psiquiátrico e psicológico, não sofro mais de medos irracionais. E o mais curioso é que, quando estou diante das ladeiras que eram tão assustadoras, as vejo como sutis ou neutras. Definitivamente, minha percepção estava alterada naquela época, e tive sorte de conseguir sair.

Relato real de Fátima (nome fictício)

Sobre a síndrome do pânico

A síndrome do pânico é um dos transtornos de ansiedade. Provoca uma série de sintomas físicos e psíquicos, dentre eles:

  • tremores
  • taquicardia
  • sudorese
  • falta de ar
  • mal-estar
  • sensação de sufocamento
  • medo da morte
  • tontura
  • calafrios

No quadro, estímulos neutros são percebidos como perigosos e ameaçadores, levando ao temor pela vida. A sensação de perigo torna-se constante, e a ausência de tratamento adequado contribui para que as crises sejam mais frequentes e intensas.

Além de oferecerem riscos reais à pessoa, ao afetar o senso crítico e a capacidade analítica, também há prejuízos físicos, psíquicos e sociais, principalmente pelo fato de, ao se sentir vulnerável e impotente diante do controle da crise, o isolamento social tende a ser visto como uma escapatória, já que dá uma falsa sensação de segurança.

O tratamento multidisciplinar é o mais eficaz, aliando suporte psiquiátrico (estabilização dos sintomas físicos) e psicológico (compreensão das causas da manifestação dos sintomas e fortalecimento emocional). Quando feito da forma correta, o tratamento da síndrome do pânico permite diminuir, de forma gradativa, os prejuízos na rotina, favorecendo a qualidade de vida e a retomada das atividades profissionais e de lazer.

Colaboração: psicóloga Maitê Hammoud

Fotos: por MundoPsicologos.com

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Maitê Hammoud
maitehammoud@hotmail.com