Quem é o culpado por tudo isso?

Buscar um culpado diante de um conflito emocional não é uma postura que contribui para o seu bem-estar. Entenda, no artigo, por que é importante viver no presente e deixar a mágoa no passado.

Quando falamos sobre conflitos emocionais e a imensidão de mágoas que eles carregam, torna-se inevitável não pensar em culpa. Na presença de conflitos, a maioria das pessoas cai numa armadilha e fica ruminando mágoas por horas, dias e, até mesmo, por anos.

Isso afeta diretamente a saúde emocional e qualidade de vida. As mágoas, que costumam ser um combustível para a tristeza, costumam encobrir este pequeno ingrediente: a culpa. Neste artigo, a psicóloga Maitê Hammoud explica melhor o tema.

Afinal, quem é o culpado?

Acredito que seja comum na história de todos aquela famosa frase, quando nós enfrentamos a momentos intensos de dor: mas o que fiz para merecer isso? A resposta é simples como um verso: muito provavelmente, nada.

Quem é o culpado por tudo isso?

No momento de dor, nossa mente tende a buscar qualquer fato que justifique tal sofrimento, na tentativa de amenizá-lo, mas o que esquecemos é que, na maioria das situações, não existem culpados, mas sim, vítimas das circunstâncias.

É uma tremenda cilada viver como se estivesse em um julgamento, como se encontrar um culpado fosse uma espécie de analgésico para dor. Esse movimento é traiçoeiro, pois, na maioria das vezes, nessa busca você encontrará tantas variáveis que se deixará levar pela busca incansável por algo que a justifique, sem focar sua atenção no que realmente se torna importante em um momento de sofrimento: cuidar das feridas emocionais.

Ainda mais perturbador é que nesta busca incansável por circunstâncias que levem a um culpado, muitas vezes o veredicto recai sob o réu e também sob a própria vítima, uma vez que o conflito nos coloca nestas duas posições. Digamos: se fui atropelado, não deveria estar ali naquele momento; se um ente se foi, deveria ter lhe dado mais atenção enquanto era vivo; se fui traído, foi escolha minha me envolver com as pessoas erradas; e assim por diante, em uma infinidade de possibilidades para se nomear culpado.

Mesmo que exista um culpado, ainda assim não deveríamos voltar nossa atenção para cuidados que permitam que essa dor seja amenizada?

Uma armadilha chamada passado

O passado, ao mesmo tempo que pode ser uma ponte para o amadurecimento, pode se tornar uma grande armadilha quando não sabemos olhá-lo pela perspectiva correta. Todo fato passado torna-se concreto, impossível de ser mudado, logo, nada nos permite fazer a respeito. A única possibilidade que nos resta é aprender com os fatos passados e, dessa forma, tentar amadurecer, agregando conhecimento para tomada de decisões futuras.

E ainda assim, não haverá qualquer garantia de imunidade a dor ou erros. Se nos lamentamos olhando algo que não é passível de mudanças, vivemos permanentemente de mãos atadas. O maior erro que as pessoas cometem é olhar para o passado com os olhos de quem está no presente.

Quem é o culpado por tudo isso?

Amadurecemos todos os dias e isso nos agrega uma série de conhecimentos que alteram nossos comportamentos e tomada de decisões. “Eu poderia ter feito diferente” é a frase que costuma vir aos pensamentos… A verdade é que não poderia. Você poderá agir diferente apenas nas situações que ainda virão a ocorrer, mas naquele momento passado, a maneira como você agiu foi a única forma que você encontrou para agir.

Quem está naquela lembrança não é a mesma pessoa que se encontra no atual conflito, a pessoa do presente mudou valores, pontos de vista, expectativas e postura. Olhar o passado é como olhar uma fotografia. Seria o mesmo que culpar uma criança que ainda está sendo alfabetizada por não passar no vestibular, cobrar de alguém que está aprendendo a andar de bicicleta que inicie suas primeiras pedaladas sem rodinhas ou então culpar um bebê que, ao dar os primeiros passos, ainda não esteja preparado para correr uma maratona.

Absolva-se, perdoe-se!

Para viver e tomar boas decisões todos os dias é preciso fazer as pazes consigo mesmo. A culpa é combustível para tristeza e para os olhares cabisbaixos. Dê uma chance para fazer as pazes com seu passado e consigo mesmo. Perdoar-se é sinal de amadurecimento e contribui com as possibilidades que a vida poderá lhe proporcionar caso dê uma chance para seu presente.

Não existem culpados, existem vítimas das circunstâncias, e uma infinidade de variáveis que nunca seremos capazes de controlar. Somos apenas seres humanos, não crie expectativas de perfeição em relação a si mesmo. É hora de olhar para o que está por vir, e não para o que se foi. Não ache que é uma tarefa fácil, mas o apoio ao se fazer presente, torna esta tarefa concebível.

Não deixe de buscar ajuda. A psicoterapia é um processo de autoconhecimento e fortalecimento emocional e, ao olhar sob outros pontos de vista, torna-se possível fazer as pazes consigo e viver sem o fardo da culpa.

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Maitê Hammoud
maitehammoud@hotmail.com