Como é ter síndrome do pânico?
E quando os sintomas da ansiedade evoluem para algo nunca antes sentido? Veja a seguir o relato de Marcelo, que se descobre em meio a uma crise de pânico, sem saber como reagir.
Quando eu ouvia falar sobre síndrome do pânico, eu pensava em pessoas com falta de ar e gritando bem alto no meio a multidão, até que fui surpreendido com este diagnóstico e pude descobrir do que, de fato, se tratava.
Ao longo da vida, eu já havia sofrido de transtorno de ansiedade generalizada (TAG), os sintomas estavam controlados há bastante tempo e fazia acompanhamento psiquiátrico e psicológico com regularidade. Muitas pessoas, assim como eu, se surpreendem com o fato de que após a conquista de estabilidade dos sintomas que exige empenho, tempo e disciplina no tratamento, estarão livres da possibilidade de uma nova crise de ansiedade ou evolução do quadro. Não fui uma exceção, e me surpreendi.
Era próximo de um feriado, estava totalmente esgotado pelo excesso de trabalho devido a uma nova empreitada, mas valia cada suspiro de cansaço.
Eu estava animado com o sucesso, com minhas conquistas, porém em poucos dias tudo mudou: recebi a notícia de que uma ex-colega de trabalho estava com câncer em fase terminal.
Nunca fui o tipo de pessoa resistente para lidar com a morte, mas… assim? Fiquei perplexo em saber que alguém que sempre fez exames de rotina quando teve queixas de dor e, de repente, sem os exames apontarem qualquer alteração, boom: câncer terminal.
Logo após o diagnóstico da minha colega, ela foi internada e, embora estivesse muito desconfortável com a notícia, imaginava que a internação garantiria um bom tempo de sobrevida para eu assimilar a notícia.
Havia programado uma viagem para aquele feriado, e a caminho do meu destino naquele final de noite recebo a ligação de uma das minhas melhores amigas. Disse: “os médicos liberaram as visitas e estou a caminho do hospital naquele final de noite para me despedir”.
Passaram apenas 5 horas do telefonema até o recebimento da notícia de óbito. Como? Como alguém jovem e que não estava doente recebe este diagnóstico? Como alguém internado em um hospital não tem uma condição de sobrevida de mais que 7 dias?
Nada fazia sentido e tamanhas dúvidas e questionamentos fizeram meu organismo, que já andava estafado, desabar.
Nos dias que se seguiram, mesmo em tratamento, sintomas de ansiedade voltaram a se manifestar: taquicardia, pressão no peito, tremores nas mãos, cansaço mental, insônia, estado de alerta, excesso de pensamentos e dificuldade em concluir tarefas simples cotidianas. Foi aí que me deparei com novos aspectos de ansiedade que até então eu desconhecia: estava preocupado com o fato de que poderia morrer a qualquer momento.
Parecia estar me perseguindo, como uma entidade, algo estranho, mas totalmente real. Havia passado 30 dias desde o falecimento de minha colega e, enquanto tomava banho, antes de ir trabalhar, comecei a pensar que estava com falência renal. Demorou apenas uma breve fração de segundos para que eu pensasse que meu corpo estava tendo algum tipo de infecção generalizada e que dificilmente algum de meus familiares aceitaria me doar um rim.
Comecei a ficar desesperado: falta de ar, taquicardia, tontura e uma vontade enorme de correr ao pronto socorro para checar o funcionamento de meus rins e receber a sentença de morte.
Embora fosse minha maior vontade naquele momento, não fiz isso. Desesperado, pedi que meu psiquiatra me atendesse com urgência e felizmente consegui um encaixe. Foi então que ele aumentou a dosagem dos medicamentos e me explicou que, devido à alta quantidade de estresse vivido, meu organismo havia desorganizado e eu estava evoluindo para síndrome do pânico.
Racionalmente, entendi perfeitamente e aderi ao tratamento medicamentoso proposto, mas, ainda assim, sem qualquer razão ou estímulo coerente, sofria de todo mal-estar com a ideia convicta de que estava com falência nos rins. Agendei um clínico geral e expliquei que tinha plena convicção do que estava acontecendo com meu corpo, solicitando uma enorme lista de exames determinados por mim, enquanto ele, na posição de médico, explicava que alguns exames ofereciam riscos quando feitos sem necessidade pela exposição à radioatividade.
De qualquer forma, me passou uma grande lista de exames e, felizmente, sequer tive tempo de realizar todos os pedidos até que a medicação fez efeito e pude voltar a viver sem temer que a morte estava me rondando ou perseguindo.
Relato real de Marcelo (nome fictício)
Informações sobre o pânico e tratamento
A síndrome do pânico é um dos transtornos de ansiedade e, embora a frequência de diagnóstico seja alta, costuma ser de difícil reconhecimento para aqueles que sofrem do problema, exatamente pelo mal-estar que os pensamentos irracionais e desproporcionais provocam na pessoa.
Os gatilhos para as crises costumam ser os pensamentos sobre temores de morte, e não necessariamente ocorrem diante de um estímulo desta temática. Tais pensamentos ganham força rapidamente para aqueles que sofrem de pânico, e o mal-estar se instala, tirando a possibilidade de controle para evitar a crise.
Uma vez que o intenso medo é instalado, o corpo reage, com sintomas físicos de ansiedade tão intensos que a sensação de que tais hipóteses são absolutamente verdadeiras é dominante. Durante a crise, é frequente sentir falta de ar, sensação de perda de controle, necessidade de esquiva ou fuga, taquicardia, sensação de sufocamento, angústia, sendo relatada por uma pressão no peito, tremores e sudorese.
É habitual a busca por pronto atendimento em hospitais diante da suspeita de infarto ou AVC, mas ao realizar exames e descartadas qualquer hipóteses de mal funcionamento do organismo, o paciente se tranquiliza e, ao não receber o possível diagnóstico de síndrome do pânico ou encaminhamento psiquiátrico/psicológico, o ciclo tende a se repetir, prejudicando intensamente, não só a saúde física e psíquica da pessoa, como oferecendo prejuízos à funcionalidade da rotina.
Aqueles que sofrem de tais crises tendem a se isolar e evitar qualquer situação que possa, de alguma maneira, se associar a perigo, medos ou dificuldade de acesso a hospitais. Pessoas que sofrem de síndrome do pânico costumam dirigir calculando a distância do hospital mais próximo e sentem-se absolutamente vulneráveis diante de situações que remetam à ausência de controle ou fuga, tais como: aviões, passeios de barco e uso de metrô, por estarem um nível abaixo do solo.
Por ser um transtorno de ansiedade, consideramos que o transtorno é psicossomático, ou seja, nele existem tanto alterações físicas quanto psíquicas. Portanto, o tratamento indicado é multidisciplinar, com acompanhamento psiquiátrico e psicológico.
O suporte medicamentoso administrado pelo médico psiquiatra tende fornecer apoio em momentos de crise, controlar sintomas físicos e tratar das questões neuroquímicas a longo prazo. O psicólogo auxilia no processo de autoconhecimento, tentando buscar o que pode ter contribuído para a fragilidade do organismo durante as primeiras manifestações (eventos traumáticos, estresse, rotina) e proporcionar apoio emocional, minimizando prejuízos na rotina e relações interpessoais.
Em colaboração com a psicóloga Maitê Hammoud