Violência doméstica e a série MAID

Uma das mais novas produções da NETFLIX com a Warner Bros é a série MAID. A trama conta a história de Alex, que sentindo-se ameaçada em seu relacionamento após um episódio explosivo do marido decide fugir no meio da noite com sua filha de 3 anos almejando reconstruir sua vida.

A série que está entre os 10 conteúdos mais assistidos da NETFLIX aprofunda questões sobre a violência doméstica e suas vertentes, ressaltando a importância de debate e conscientização do tema já que no Brasil foram registradas pela polícia militar 694.131 ligações de mulheres violentadas em 2020, representando pelo menos um chamado por minuto.

Afinal, o que podemos aprender com a série?

ATENÇÃO! ALERTA DE SPOILER!

1) A dificuldade em reconhecer a violência: um aspecto muito interessante sobre Alex ocorre logo no primeiro episódio da série – após fugir de casa, a protagonista procura apoio de um serviço social e ao ser questionada pela assistente, Alex afirma que nunca sofreu abuso do marido por não ter sido violentada fisicamente. Este é um aspecto importante a ser discutido porque é a percepção de muitas mulheres: a ideia de que violência doméstica está sempre associada a violência física. É importante se conscientizar que no Brasil, a Lei Maria da Penha prevê inúmeros tipos de violência: vias de fato (agressões que não deixam marcas como empurrões ou puxões de cabelo), ameaça, lesão corporal (violência física), sexual, verbal, patrimonial e psicológica.

2) O padrão familiar e o ciclo que se repete: embora não seja uma regra, é muito mais comum que mulheres que permanecem em um relacionamento violento possuam em sua história no núcleo familiar a presença de violência doméstica. Porque isso ocorre? De uma perspectiva psicanalítica isso se dá em função de alguns fatores:

– nossa personalidade é formada até os 7 anos de idade intensificando os fatos e construção de valores em que a criança é exposta nesse período. Crianças que crescem em lares violentos tendem a internalizar o conceito de que a violência é algo “normal” entre os casais e nos núcleos familiares, favorecendo a escolha de um parceiro agressivo no futuro que leva a reprodução de seu núcleo familiar;

– outro aspecto inconsciente que pode ser citado é que a mulher com o desejo inconsciente de reparar seu passado ou a imagem paterna, busca um parceiro com características semelhantes de seu pai, favorecendo a repetição do padrão de agressor.

Ao longo da trama, Alex se demonstra sempre distante de seu pai mas sem saber nomear as razões. Aos poucos ela retoma lembranças da razão do divórcio de seus pais: uma briga violenta onde seu pai agride sua mãe, o que a leva a também fugir no meio da noite sentindo-se ameaçada.

3) O ciclo que se repete: um outro aspecto importante sobre a violência doméstica e relacionamentos abusivos é o ciclo de violência. Tanto Alex quanto a amiga que conheceu no abrigo que lhe acolheu caem na armadilha do ciclo de violência doméstica reatando com seus parceiros agressores em algum momento. O ciclo de violência doméstica é composto pelas seguintes fases: evolução de tensão, agressão e lua de mel. Na fase de lua de mel, o parceiro costuma buscar sua parceira dizendo-se arrependido, promove alguma forma de reparação (um pedido de desculpas, um presente) e faz promessas de que irá mudar. Sem estar fortalecida emocionalmente, a vítima tende a se envolver em tais promessas de mudanças de comportamentos reatando o relacionamento e permanecendo presa neste ciclo de violência.

MAID e as faces da violência doméstica

4) As diferentes relações envolvidas na violência doméstica: muitas pessoas acreditam que a violência doméstica se restringe a casais heterossexuais. Vale ressaltar que ela pode atingir não só casais de gêneros diferentes ou iguais ou então as relações parentais como a de mãe e filho, não sendo praticada necessariamente por um homem. Este aspecto é abordado na série através de um serviço de limpeza que Alex presta na casa de um famoso assaltante que se encontra preso. A casa possui inúmeras marcas da violência que o assaltante sofria quando pequeno, ficando trancado em pequenos cômodos e sendo privado de alimentos, o que nos induz a entender o berço de sua personalidade perturbada.

5) O perfil possessivo do agressor: é interessante prestar atenção nos aspectos da personalidade do marido de Alex. Assim como muitos agressores, ele não praticava comportamentos violentos e opressores apenas em seus momentos de explosão. Fica claro que seu parceiro desde o início incentiva Alex a não trabalhar ou estudar, favorecendo que ela não conquiste sua independência financeira por uma questão de controle e obsessão.

Diante da violência doméstica ou de um relacionamento abusivo, o que posso fazer?

É fundamental que a vítima de violência doméstica ou de um relacionamento abusivo esteja em acompanhamento psicológico para elaborar os traumas vividos, se fortalecer emocionalmente e se empoderar para quebra do ciclo de violência e pela busca de parceiros similares no futuro.

Conte também com o apoio do 180 – um disque denúncia anônimo da polícia militar.

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Maitê Hammoud
maitehammoud@hotmail.com