Sinais de psicopatia: identificar precocemente determina a eficácia do tratamento
Familiares e amigos são fundamentais para identifiar os primeiros sinais de que algo não encaixa no comportamento da pessoa, antes mesmo de o primeiro surto se manifestar. Saiba como agir.
O ponto central da psicose (psicopatia) é a perda do contato com a realidade. Indicativos de surtos e transtornos psicóticos são caracterizados por mudanças no comportamento, que se manifestam através de delírios, alucinações, discurso incompreensível, agitação psicomotora, prejuízo sócio-ocupacional e ausência de crítica, sem que exista alteração do nível de consciência. A psicóloga Maitê Hammoud dá mais detalhes.
A consciência e sensibilidade para perceber que algo está errado com um familiar ou amigo pode ser essencial, considerando que estudos apontam que a identificação primária dos sintomas representa a recuperação de 70% dos casos em até 4 meses e 83% se consideramos o período de um ano. Vale ressaltar que estas estatísticas não se referem à interrupção do tratamento, mas sim ao controle dos sintomas, sem que sejam oferecidos prejuízos a saúde ou vida social da pessoa. Devem ser respeitadas as orientações médicas sobre o acompanhamento e continuidade do tratamento.
A demora pela busca do tratamento pode causar piora do prognóstico e permanência desnecessária do sofrimento, além de oferecer riscos à saúde e vida da pessoa.
Reconhecer precocemente o quadro clínico (por parte dos familiares e profissionais) e logo iniciar o tratamento pode ser determinante para o desfecho clínico a curto e longo prazo. A detecção precoce mostra que os pacientes logo tratados exibem menos comportamentos suicidas e menor gravidade da doença na avaliação inicial, otimizando seu funcionamento social.
Causas e origens da psicopatia
Alguns fatores podem ser considerados como relevantes para as causas de surtos ou manifestações de transtornos de ordem psicótica como: estresse, vulnerabilidade genética, histórico familiar de doença psiquiátrica, fatores sociais como violência na infância, vida urbana, abuso de drogas, isolamento social e migração.
Sintomas da psicopatia
Após a identificação do primeiro episódio psicótico, é comum que os familiares ou aqueles que convivem com a pessoa relatem que já haviam percebido mudanças sutis e inespecíficas em seu comportamento. Por isso, qualquer sinal deve receber atenção, fazendo com que um médico psiquiatra ou psicólogo seja consultado para uma avaliação.
Como principais sintomas podemos destacar: alucinações, delírios, pensamento desorganizado e comportamento notadamente bizarro.
Alucinações
São experiências semelhantes à percepção que ocorrem sem estímulo externo, sendo vívidas e claras. Por isso, possuem toda a força e impacto das percepções normais, não estando sob controle voluntário. As alucinações podem se manifestar de várias maneiras:
- Auditivas: normalmente manifestadas por vozes que podem ser de familiares ou não, músicas, campainhas, estalos, entre outros;
- Visuais: pessoas, objetos e imagens percebidas apenas por aquele que sofre da alucinação;
- Olfatórias: normalmente relacionadas a perfume de alimentos ou odores desagradáveis;
- Táteis: sensações de toque, queimadura, umidade, entre outras;
- Viscerais: sensações localizadas em órgãos internos.
Delírios
São crenças fixas, não passíveis de mudanças à luz de evidências conflitantes. Podem possuir inúmeros conteúdos, sendo os principais:
- Delírios persecutórios: crença de que o indivíduo será prejudicado, assediado, etc;
- Delírios de referência: faz a pessoa acreditar que gestos ou comentários são dirigidos a ela;
- Delírios religiosos: podem fazer com que a pessoa acredite ser uma figura religiosa como Jesus, Deus, um santo, etc;
- Delírios de grandeza: a pessoa crê que tem habilidades excepcionais, riqueza ou fama;
- Delírios erotomaníacos: faz com que a pessoa acredite que alguém está apaixonada por ela, sem qualquer evidência consistente para que o pensamento tenha fundamento;
- Delírios niilistas: envolvem a convicção de que ocorrerá uma grande catástrofe;
- Delírios somáticos: concentram-se em preocupações referentes à saúde e função dos órgãos;
- Delírios considerados bizarros: aqueles que incluem a crença de que os pensamentos da pessoa foram “removidos” por alguma força externa, pensamentos estranhos foram colocados em sua mente ou de que seu corpo e ações estão sendo controlados por uma força externa.
Discurso desorganizado
Respostas e perguntas podem não ter relação alguma, fazendo com que o discurso da pessoa se torne uma verdadeira “salada de palavras”. O efeito direto é prejudicar significativamente o conteúdo expresso ou consistência de um diálogo estabelecido.
Outros sinais da psicopatia
A pessoa que manifesta esse transtorno tem alterações motoras. Também é visível um aumento de exigências, do tom de voz, além do costume de fazer comentários pejorativos, manter uma postura de irritabilidade e desconfiança. Outros sinais comuns são:
- Sentimento de medo,
- Hábito de permanecer de pé,
- Desacatar orientações médicas ou de terceiros, não parando de andar ou permanecer imóvel,
- Alterações do curso, quantidade, velocidade, forma, associação e propriedade dos pensamentos,
- Alterações da realidade ou da natureza,
- Labilidade emocional (alterações na manifestação de emoções como respostas emocionais inadequadas, choro ou riso inadequado, entre outros),
- Embotamento afetivo (dificuldade em expressar emoções ou sentimentos),
- Risos imotivados ou inadequados,
- Alterações da cognição.
Tratamento da psicopatia
Como citado inicialmente, é fundamental que, quando sinais que indiquem alteração dos padrões de funcionamento normal do indivíduo são percebidos (mesmo que sutis), um médico ou psicólogo seja consultado para uma avaliação.
O diagnóstico precoce pode favorecer consideravelmente a diminuição dos sintomas, minimizando prejuízos e favorecendo a melhora do paciente. Na primeira entrevista, é indicado que membros da família estejam presentes, considerando que, nessas circunstâncias, a pessoa pode não conseguir fornecer um histórico confiável para avaliação.
Pode ser realizada pelo profissional a investigação clínica e o histórico médico do paciente, recorrendo a exames físicos, neurológicos, laboratoriais e de imagem, a fim de descartar alterações orgânicas e biológicas que podem estar associadas à manifestação dos sintomas.
As famílias devem ter consciência de que é possível alcançar uma série de benefícios nesses casos, através do seguimento multidisciplinar, com acompanhamento nutricional e metabólico, terapia ocupacional, cuidados com a higiene, o sono, entre outros.
As manifestações destes sintomas podem indicar: transtorno delirante, transtorno psicótico breve, transtorno esquizofreniforme, esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo, transtorno psicótico induzido por substâncias/medicamentos e catatonia.