Tragédia Chapecoense e o estresse pós-traumático
A tristeza e falta de entendimento diante de uma situação de intenso sofrimento podem ser mais duradouras do que se imagina. Vítimas diretas e indiretas do fato podem até desenvolver TEPT.
A triste notícia da queda do avião que levava o time da Associação Chapecoense de Futebol teve repercussão mundial. O lugar da tragédia foi Colômbia, o dia, 28 de Novembro e o resultado imediato, 71 mortos, entre jogadores, jornalistas, diretoria, equipe técnica e tripulação. Seis pessoas sobreviveram e 210 mil chapecoenses, entre familiares e amigos, sofreram com a despedida e o trauma devastador. A psicóloga Maitê Hammoud faz uma avaliação do caso.
No caso de uma tragédia como essa, a recuperação psíquica e emocional chega a ser mais difícil que a recuperação física, exigindo extrema atenção e dedicação. Isso porque há espaço para o aparecimento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), que, como o próprio nome sugere, é algo desencadeado por situações extremas.
Definindo o Transtorno de Estresse Pós-Traumático
O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) é um transtorno de ansiedade, que aparece como resposta a um evento que ameaça a integridade física da pessoa ou de terceiros. Trata-se de um fato que provocou no indivíduo um medo intenso, sensação de desamparo ou horror.
Ou seja, não são apenas aqueles que viveram diretamente a situação de trauma que podem desenvolver o transtorno, mas também aqueles que possam ter presenciado ou testemunhado o evento ocorrido com outras pessoas, aqueles que ficaram sabendo que o evento ocorreu com familiar ou amigo próximo ou ao serem expostos de forma repetida ou extrema a detalhes aversivos do evento, como por exemplo, socorristas, policiais ou voluntários em uma situação de tragédia.
Que tipo de situações traumáticas costuma provocar o TEPT?
Qualquer situação que possa ameaçar a integridade de alguém pode favorecer o desenvolvimento de TEPT, mas algumas delas são fortes indicadores do desenvolvimento do transtorno:
- agressão física,
- assalto,
- furto,
- abuso sexual (estupro, penetração sexual forçada, penetração sexual facilitada por álcool/drogas, abuso sexual infantil),
- sequestro ou ser mantido como refém,
- ataque terrorista,
- tortura,
- desastres naturais (enchentes, terremotos, furacões),
- acidentes (automobilísticos, aéreos).
Sintomas do Transtorno de Estresse Pós-Traumático
Entre os diversos sintomas que o TEPT pode desencadear, vale mencionar como principais:
- lembranças intrusivas angustiantes, recorrentes e involuntárias do evento traumático;
- sonhos angustiantes;
- reações dissociativas (flashbacks), nas quais o indivíduo sente ou age como se o evento estivesse ocorrendo novamente;
- sofrimento psicológico intenso e prolongado;
- evitação persistente de estímulos associados ao evento como, por exemplo, esforçar-se para evitar recordações e lembranças, evitar lugares ou meios de transporte;
- incapacidade de recordar algum aspecto importante do evento (ter um “branco”);
- crenças ou expectativas negativas persistentes e exageradas a respeito de si mesmo;
- estado emocional negativo e persistente (medo, pavor, raiva, culpa ou vergonha);
- cognições distorcidas persistentes a respeito da causa ou das consequências do evento, que levam o indivíduo a culpar-se a si mesmo;
- redução de interesse e participação em atividades;
- distanciamento emocional;
- comportamento irritadiço;
- surtos de raiva;
- comportamento imprudente ou autodestrutivo;
- hipervigilância;
- prejuízos na concentração;
- perturbações do sono;
Tratamento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático
O apoio psicológico é fundamental no tratamento de TEPT. Normalmente, estrutura-se a chamada “psicoterapia breve”, na qual, em 12 sessões, será trabalhada apenas a situação do trauma.
Especialistas contam também com as técnicas TFT (Terapia do Campo do Pensamento) e EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares), que têm como objetivo o reprocessamento de lembranças traumáticas, contribuindo para o distanciamento de tais lembranças e favorecendo o processo e diminuição da angústia vivida de maneira intensa e persistente.
Em alguns casos, o suporte medicamentoso e acompanhamento psiquiátrico também podem ser necessários. No caso do acidente com a Chapecoense, tanto os sobreviventes como os amigos e familiares necessitarão de acompanhamento e apoio. Vale lembrar que nos casos em que o número de pessoas são afetadas é substancial, podem ser estruturadas psicoterapias em grupo. Além disso, a construção de um símbolo (como um memorial) também pode favorecer na elaboração do trauma e do luto.
Fotos: por Nelson Almeida (AFP) e MundoPsicologos.com