Desafios da homossexualidade na família
Lidar com a homossexualidade de um filho não é tarefa fácil, ao envolver aceitação e desconstrução de mitos. Como pai, você sabe o que deve trabalhar para lidar com isso de forma positiva?
Estou desconfiada que minha filha é gay… Meu filho me contou que é gay… E agora? Mesmo com o assunto estando sempre em alta nas mídias, novelas, redes sociais e cada vez mais presente no dia a dia das pessoas, esse continua sendo um tema delicado. A psicóloga Maitê Hammoud conduz esta reflexão, importante para todos nós.
A homossexualidade gera inúmeras dúvidas e conflitos nos pais, tornando-se indispensável a reflexão sobre o tema.
Orientação sexual e desmistificação de mitos
Inicialmente, é fundamental que façamos a reflexão sobre ”o que é ser gay”, uma vez que a orientação já foi associada tantas vezes a diversos tabus ao longo das décadas. Ainda é encontrado em muitos textos, e até mesmo livros técnicos, o termo ”opção sexual”… mas a homossexualidade não se trata de uma opção e sim de orientação.
Seu filho(a) não está fazendo isso para chamar a atenção, por influência dos amigos ou por rebeldia, ele apenas tem interesse pelo mesmo sexo ao invés do sexo oposto. Da mesma forma que em algum momento da sua vida você se interessou pelo sexo oposto e foi algo natural, para ele também é, faz parte de sua construção e identidade, não existindo sequer comprovação científica de que a orientação sexual esteja vinculada a aspectos genéticos ou psicológicos.
Outra questão importante a ser abordada é que a homossexualidade não está vinculada ao HIV. A transmissão do vírus está vinculada ao sexo sem proteção, e não a relacionamentos homoafetivos.
É importantíssimo também descartarmos a hipótese da homossexualidade como doença: em 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) excluiu a homossexualidade da lista de distúrbios mentais. Apesar de tardia, a medida surtiu algum efeito, afinal, com isso pode-se afirmar que ser gay não é ser ou estar doente. E, mesmo que fosse, não seria contagioso.
Dúvidas e conflitos
Quem foi que falou que é fácil lidar com um tema assim? Mas isso não quer dizer que seja impossível. Esses são alguns dos conflitos mais frequentes no entorno familiar quando a homossexualidade é pano de fundo:
”É só uma fase”
Se o desejo se desperta no início da adolescência, é possível sim que seja só uma fase, afinal, a identidade ainda está em construção. Porém, possivelmente, como citado anteriormente, faça parte da construção e identidade dessa pessoa, sendo algo natural.
Se você perceber que seu filho(a) possui conflitos, dúvidas, que lida com o tema com dificuldade, não deixe de buscar ajuda de um psicólogo para que, durante o processo, a partir do acompanhamento psicológico, ele possa entender seus desejos e pensamentos, auxiliando em sua construção e direcionamento, lidando com as dúvidas com mais segurança e tranquilidade.
”Não criei meu filho(a) para isso”
Esta é uma frase e um sentimento comum nos pais, mas é importante pensarmos que seu filho não é uma extensão sua! Ele é um ser humano individual, com personalidade e desejos próprios, e você deve admirá-lo por isso.
Não se sinta culpado pela orientação sexual de seu filho, não existe nada que você poderia ter feito diferente para mudar esse fato.
”O que os outros vão pensar?”
Não tenha medo do que os outros irão pensar. ”Os outros” pensariam muitas coisas em quaisquer circunstâncias, sejam elas relacionadas à homossexualidade ou não. Foque em vencer seus medos e preconceitos para que o vínculo com seu filho(a) continue sólido.
”Você já tentou com o sexo oposto?”
Tente refletir… você precisou ter uma relação com uma pessoa do mesmo sexo para ter certeza de que era heterossexual? Pode ser que seu filho já tenha tentado se relacionar com o sexo oposto e se frustrado, fortalecendo ainda mais a certeza de sua orientação.
Não tente incentivar que ele realize algo que não tenha desejo. Além de a experiência não mudar sua orientação, relações afetivas devem ser construídas com carinho e intimidade. Viver essa experiência contra sua vontade pode ser muito traumático e conflituoso. Respeite.
”Sinto medo do preconceito que você irá sofrer”
O preconceito não é exclusivo aos gays e, muito menos, é possível poupar a vida de um filho de situações de preconceito e sofrimento. O que favorece que o sofrimento seja minimizado é o apoio que a pessoa recebe de sua família, sentindo-se mais seguro para lidar com casos de preconceito ou exclusão.
”Não vou ter netos?”
Mesmo que seu filho fosse heterossexual, isso não garantiria que você tivesse netos. E mais, atualmente existem infinidades de possibilidades para casais homoafetivos constituírem família, seja por métodos artificiais ou adoção.
Às vezes precisamos deixar os projetos que criamos em nosso imaginário para os nossos filhos, e aceitarmos e fazermos parte dos projetos que eles desejam construir para suas próprias vidas.
Apoio
O apoio dos pais é fundamental. Se você não se sente preparado(a) para aceitar a orientação sexual de seu filho(a), se estes ou outros conflitos lhe causam sofrimento, não deixe de procurar apoio!
Existem grupos de pais onde você se vinculará com pessoas que sentem e pensam o mesmo que você, permitindo a troca de experiências que poderá ampliar suas perspectivas.
O auxílio de um psicólogo também poderá ser extremamente benéfico, auxiliando no fortalecimento emocional, reflexão, organização de pensamentos e resolução de conflitos. Será importante não apenas para seu bem-estar, mas principalmente na relação com seu filho(a).
Fotos: por MundoPsicologos.com