O que é relacionamento abusivo
O relacionamento abusivo é silencioso e destrutivo. Entretanto, há uma série de indicadores que podem ajudar a vítima a reconhecer o ciclo abusivo e romper com o ciclo de dominação. Vivemos um momento de ressignificação da violência.
Por muitas décadas, se perpetuou que violência se tratava apenas de agressões físicas; mas, através de mudanças culturais e do divisor de águas que supõe a Lei Maria da Penha, que caracteriza e nomeia os diferentes tipos de manifestação de violência, redes de suporte não medem esforços para conscientizar sobre o que efetivamente é violência, como ela se manifesta e que ela nada deve ter a ver com relacionamentos afetivos.
Com objetivo de auxiliar na identificação da dinâmica de um relacionamento abusivo, estimulando a reflexão sobre sua permanência na relação, a psicóloga Maitê Hammoud preparou uma lista de características que costumam fazer parte dessa realidade. Vale à pena analisar e refletir, em prol da sua saúde e autoestima.
1) Agressivo passivo
Parceiros dominadores em relacionamentos abusivos muitas vezes possuem o perfil de agressivo passivo, algo que dificulta o reconhecimento do parceiro como agressor. A agressividade passiva fere o outro de maneira sutil, tornando difícil a percepção, mas não diminuindo os prejuízos.
O aspecto mais importante do agressivo passivo em um relacionamento abusivo é o fato de usar de falas envolventes, que comprometem a autoestima da parceira(o), contribuindo para a formação de um vínculo de dependência a partir da fragilidade. A(O) parceira(o), que muitas vezes recebe críticas em tom de voz suave, começa a desacreditar em seu potencial, e a aceitar que o que o parceiro diz é para o seu bem.
Frases como “Você não deve procurar outro emprego…”, “Você não fica bem com este tipo de roupa…”, “Se você tentar fizer isso, provavelmente passará vergonha…” devem ser consideradas um sinal de alerta.
2) Juras de amor
Juras de amor que se assemelham a falas como “Ninguém nunca irá te amar como eu te amo” costumam estar presentes no relacionamento abusivo. Além do mais, o parceiro dominador frequentemente relata histórias de seus relacionamentos anteriores nas que sempre aparece na posição de vítima, com casos em que foi trapaceado por sua bondade e inocência.
Se seu parceiro repete esses padrões, fique atenta: a história pode estar mal contada!
3) Discussões e questionamentos
Mesmo sem forças para reagir, é normal que a pessoa que está em um relacionamento abusivo se questione sobre a experiência vivida com o parceiro, tratando de entender onde está o limite da normalidade. É muito importante não desconfiar da sensação de estranhamento que sua intimidade desperta em você.
Um bom indicador é estar atenta(o) às discussões. Por mais passivo agressivo que seja o parceiro, elas quase sempre vêm com um aumento drástico do tom de voz e com gritos.
4) Sinais de alerta de violência
Pessoas com perfil agressivas e dominadoras frequentemente sinalizam comportamentos prévios, que não devem passar despercebidos. É comum que se deixem levar por suas emoções, que acabam por culminar em agressões físicas contra objetos. Ao ter que enfrentar as frustrações, respondem com reações desproporcionais de raiva, quebrando objetos e mantendo atitudes enfurecidas.
5) Perfil solitário
É frequente que o agressor possua um perfil solitário, e que aos poucos acabe envolvendo sua parceira(o) na convivência solitária a dois. O parceiro dominador não costuma participar de grupos sociais e, com argumentos românticos, leva sua parceira(o) a se distanciar de sua rede de amigos.
6) Inversão de papéis
Discordar de opiniões costuma resultar em comentários do tipo: “você é louca(o)” ou “você está fazendo drama”. Manipulador, o parceiro abusivo arquiteta um jogo no qual consegue fazer a parceira(o) se sentir-se sempre culpada(o) por desencadear brigas e discussões.
Nem sempre os argumentos usados são lógicos. E o poder vai se consolidando porque, mesmo sem compreender as acusações, quem é submisso na relação acaba aceitando a responsabilidade pelos enfrentamentos.
7) Tristeza e introspecção
O processo de abuso envolve uma dinâmica contínua e, muitas vezes, sutil. Quem o sofre, acaba por sentir uma tristeza persistente, sem conseguir identificar suas causas reais.
Após ser alvo de críticas, julgamentos e sentir culpa pelas discussões, a vítima tende a desenvolver uma personalidade introspectiva, submissa e passiva. Temendo ataques ou explosões críticas e destrutivas, a fragilidade se consolida, podendo ser a porta de entrada para o desenvolvimento de quadros de depressão e ansiedade.
8) Ciúmes excessivo e manipulação
Descompensada, a parceira(o) abandona atividades ou hobbies por medo da reação de quem tem o controle do relacionamento. Através da manipulação, o agressivo passivo faz com que a parceira(o) acredite que deve confiar apenas na opinião dele. Afinal, “ele te conhece tão bem e quer seu bem”.
O parceiro dominador teme qualquer situação que possa representar um momento de reflexão ou valorização da vítima. Exatamente por isso, exerce um comportamento ciumento, que desperta na parceira(o) o medo a qualquer coisa que possa despertar ciúmes.
Empodere-se! Busque por ajuda!
O acompanhamento psicológico é fundamental para conceder à vítima acolhimento e suporte na elaboração de experiências traumáticas como essa, já que é o caminho para poder cuidar das dores emocionais. Além disso, o processo favorece o autoconhecimento e fortalecimento emocional, ajudando na tomada de decisões, na imposição de limites e na busca por futuros parceiros compatíveis com seus valores e perspectivas de futuro.
Vale lembrar que os relacionamentos abusivos não se restringem apenas à prática violenta de um homem contra uma mulher, podendo também ser praticados por uma mulher contra o homem e também nos relacionamentos homoafetivos. Em qualquer caso, exigi-se a mesma seriedade e cuidados.
Se você se sente em um relacionamento abusivo, não deixe de procurar ajuda de um psicólogo! Também é recomendável buscar suporte da Justiça, através do telefone 180, no qual é possível fazer denúncias anônimas. Outro caminho é se apresentar na Delegacia da Mulher para orientações e medidas de proteção.