O que é psicossomática?

Você saberia identificar a manifestação de uma doença psicossomática? Saberia o que fazer num caso assim? Leia este artigo para saber mais sobre o tema e para ter corpo e mente em harmonia.

O termo psicossomática vem se tornando popular na última década, mas sem receber a devida atenção! Muitos utilizam o termo para justificar algum desconforto ou sintoma físico, deixando de procurar apoio profissional por acreditar que os sintomas desaparecerão com a resolução de alguma fase delicada da vida, e que vem afetando seu estado emocional.

Ou então, ao ouvirem o termo “psicossomática” por parte de um médico, colega ou familiar, sentem-se ofendidos, como se tais sintomas fossem questão de escolha, ou até mesmo como se não fossem reais, sentindo-se menosprezados na intensidade da dor presente. Quem explica o tema é a psicóloga Maitê Hammoud.

Mas o que é psicossomática?

Para explicar o conceito de psicossomática, começaremos falando sobre a composição da palavra que originou o termo e conceito. De origem grega, se trata da junção de duas palavras:

• psique: que significa mente e alma,
• soma: que significa corpo.

Sob essa perspectiva, compreendemos que ao falarmos sobre doenças psicossomáticas estamos falando sobre respeitar o funcionamento humano e de sua saúde em sua totalidade, integrando a interação do corpo e da mente na manifestação de sintomas ou desenvolvimento de doenças.

Que tipo de doença caracteriza a psicossomática?

Quando falamos da saúde em sua totalidade, o correto é considerar a individualidade de cada um dentro do seu aspecto biopsicossocial, onde, no desenvolvimento de doenças psicossomáticas, são considerados seus aspectos biológicos (genéticos, bioquímicos, etc.), psíquicos (emocional, humor, personalidade, comportamentos, etc.) e sociais (cultura, família, condições socioeconômicas, etc.).

Partindo do preceito de que nas doenças psicossomáticas a mente e o corpo interagem entre si, e de que seu desenvolvimento depende de uma série de variáveis, considera-se que, para o desenvolvimento de uma doença psicossomática, os fatores determinantes e desencadeadores em questão poderão ser endógenos ou exógenos. Porém, independente de qual for seu fator determinante, sempre existirão prejuízos físicos e psíquicos, e, consequentemente, o meio social daquela pessoa será afetado de alguma maneira.

Fatores endógenos

São considerados endógenos os fatores internos como mal-estar psíquico, genética ou fisiologia do corpo, que, ao manifestar alguma desordem ou com o surgimento dos sintomas, afeta o meio em que o indivíduo vive, comprometendo sua qualidade de vida. Podem ser observadosprejuízos nas relações interpessoais, rotina profissional, produtividade, entre outros).

Fatores exógenos

Já os fatores exógenos são considerados fatores estressores do meio, tais como desemprego, desastres naturais, luto, acidentes, entre outros, e que causarão tamanho impacto na saúde do indivíduo exposto que haverá comprometimento da sua saúde física e psíquica, contribuindo para o desenvolvimento da doença psicossomática.

Exemplos clínicos da psicossomática

Muitas doenças se enquadram no conceito da psicossomática. Partindo do princípio de que a mente e o corpo interagem constantemente ao longo da vida, a manifestação de sintomas e desenvolvimento de doenças podem ser os mais variados, podendo citar como exemplos recorrentes:

• Doenças clínicas a partir de uma desordem psíquica: úlcera, gastrite, retocolite, constipação intestinal, asma, bronquite, hipertensão, psoríase, dermatite, urticária, enxaqueca, vertigens, dores musculares, artrite, fibromialgia, entre outros. Todas elas são manifestações que podem ocorrer em casos de sintomas e desenvolvimento de doenças clínicas a partir de uma desordem psíquica. Principalmente em situações de estresse e sofrimento intenso, o mal-estar psíquico poderá refletir na saúde física em alguma destas formas.

Já no caso de transtornos psiquiátricos, a combinação da mente e do corpo podem funcionar da seguinte maneira:

• Depressão: poderão ser manifestados sintomas cognitivos de ordem emocional como tristeza persistente, baixa autoestima, ideações suicidas, questionamentos sobre a vida, ruminação de lembranças, entre outros. Enquanto na saúde física, poderão se manifestar indisposição, falta de concentração, alterações no sono ou apetite, ausência de libido, etc.
• Transtornos de ansiedade: a manifestação dos sintomas pode derivar de um evento específico do qual a pessoa costuma não ter consciência ou que não associa com o início da manifestação dos sintomas, possuindo como principais sintomas cognitivos e emocionais o pessimismo (pensamentos temendo ou se preocupando excessivamente em relação ao futuro, desde situações simples do cotidiano até preocupações com eventos a longo prazo, e que não estão sob seu domínio, como pode ser o temor pela morte), medo, sentimento de impotência ou inadequação, etc. Já na saúde física, frequentemente se manifestarão insônia, taquicardia, sudorese, falta de ar, etc.
• Estresse: pessoas expostas a situações de estresse podem frequentemente apresentar dores musculares, gastrite, prisão de ventre, etc.
• Abuso sexual infantil: outros casos que podemos mencionar como frequentes são de pessoas que, ao sofrerem abuso sexual infantil, desenvolvem perturbações no sono por temerem o calar da noite e sofrem de insônia ao longo da vida, mesmo depois de adultos ou da ausência do perigo ou do agressor. Ou então, ao sofrer um acidente de carro, desenvolve fobia ou síndrome do pânico na presença da possibilidade de dirigir novamente.

Estes exemplos ilustram que, além da manifestação dos sintomas físicos, a mente necessitará de apoio para elaboração do trauma e conflito, contribuindo diretamente para o controle dos sintomas.

Isso quer dizer que se sofro destas doenças devo procurar um psicólogo ao invés de um médico?

Não! O desenvolvimento dessas doenças não é exclusivamente desencadeado por desordens psíquicas, podendo se manifestar em razão de fatores orgânicos ou genéticos. Porém, em situações onde sua origem é desconhecida ou de ordem psíquica e não física, isso não significa que elas não existam.

Pelo contrário, são absolutamente reais e exigem tratamento e acompanhamento médico, mas sinalizam que, ao não ser associado acompanhamento psicológico ao longo do tratamento, permanecerão ou se manifestarão de maneira recorrente em situações em que a mente sinta-se sobrecarregada e necessitando de cuidados.

Desta forma, vale ressaltar que, como a mente e o corpo interagem e dependem do bom funcionamento de um para o funcionamento adequado do outro, o indicado é que sempre que exista a possibilidade do transtorno ou doença ser psicossomática, o tratamento seja realizado por uma equipe multidisciplinar, com acompanhamento médico e psicológico.

Assim, a curto prazo a saúde será beneficiada como um todo e, consequentemente, a harmonia entre o corpo e a mente refletirá no meio, tanto em sua qualidade de vida, quanto nos aspectos sociais.

Fotos: por MundoPsicologos.com